A câmara tem o projecto de instalar um centro de interpretação na Fóia, um cartão de visitas para os milhares de turistas que vão ao lugar saber quais os sítios mais interessantes a visitar do concelho. Um parque de actividades radicais é outra ideia para ali. O presidente também espera equipar a vila com mais locais de dormida.
O Vale Largo, um "local chave da serra", segundo o arquitecto António Marques, vai manter-se esquecido, se o parque não sair da gaveta. Durante a elaboração do projecto o grupo de trabalho galgou a serra várias vezes, conta com nostalgia o arquitecto: "Foi olhar para a paisagem, caminhar, em cada uma das áreas dirigir-nos às pessoas."
A câmara tinha lançado pistas dos locais a descobrir, mas apresentou-se outro mapa das potencialidades da região. "Acabámos por perceber que o sítio mais interessante não é a Fóia, mas a Picota [o segundo lugar mais alto, a 774 metros], onde existem umas termas interessantíssimas a que se tem de ir a pé", exemplificou Ana Celorico Machado.
Um destes locais fica depois da Fóia, onde a paisagem humanizada está viva, com um grupo de casas habitadas ao redor de um vale. Ainda está lá tudo: os socalcos trabalhados, o riacho a passar, uma cascata, um pequeno milheiral, hortas, um pomar, o sobreiro "esticado" próprio de Monchique, alguns pinheiros e castanheiros, já com poucas das suas folhas largas, mas suficientes para preencher a paisagem com borrões amarelos e castanhos. Só falta a neve. Um Algarve nórdico irreconhecível.
É sábado e uma família sai de uma vivenda com a enxada na mão. "Como a agricultura está em regressão, as pessoas têm um emprego durante a semana e é ao fim-de-semana que o campo fica vivo", diz António Marques.
Nas últimas décadas quem se instala no interior serrano ou são casais estrangeiros mais velhos, ou famílias portuguesas também no final da vida. Os novos vão para a costa, onde há mais emprego, ou estudam em outras cidades do país. Entre 1993 e 2008 o concelho perdeu mais de mil habitantes. Em 1960 tinha mais de 14 mil pessoas.
Mas os tempos áureos da serra foram durante o século XIX, antes da campanha do trigo no Alentejo, quando Monchique alimentava a costa do Algarve. "Ao vermos a quantidade de socalcos, vemos a dimensão que isto tinha para a costa", diz o arquitecto.
A questão é que raras são as espécies que vivem sem o homem. "As paisagens desumanizadas desempenham muito poucas funções ecológicas, produzem muito pouco e ninguém faz turismo numa paisagem sem pessoas", disse durante o congresso em Lisboa Margarida Cancela d"Abreu, arquitecta paisagista e a actual presidente da Associação Portuguesa de Arquitectos Paisagistas.
Olhar e ir embora
O Bio Parque contava com os projectos âncora que já existem hoje no concelho, como a mina que explora sianitos, rocha rara semelhante ao granito, ou as termas de Monchique, mais o investimento no turismo da natureza, para atrair outras actividades que pelo menos garantissem a manutenção desta paisagem.
Emílio Vidigal defende que o projecto "é importantíssimo para desenvolver a região". Mas o presidente da Associação dos Produtores Florestais do Barlavento Algarvio diz que é necessário dinheiro para que isto aconteça e critica o Governo por ter prometido ajudas ao conselho na recuperação dos incêndios. "As expectativas criadas depois dos incêndios para recuperar as áreas ardidas ficaram no papel."